Os 8 pilares da gamificação: conheça o Octalysis Framework de Yu-kai Chou
Quando o assunto é gamificação, poucas pessoas no mundo possuem tanta autoridade para falar quanto o empresário taiwanês Yu-kai Chou. Com apenas 37 anos de idade, Chou estuda o tema desde 2003, quando criou uma empresa focada em conectar profissionais por meio de um sistema gamificado.
Em duas décadas de trajetória, Yu-kai Chou conseguiu vencer a resistência de empresários que viam uma possível influência dos jogos no mercado de negócios como algo infantil. Hoje, ele é amplamente reconhecido como um pioneiro da gamificação, tendo compartilhado suas ideias com empresas como HP, Google, Cisco, Uber e Tesla.
Uma das grandes contribuições de Chou para o universo da gamificação foi a criação do Octalysis Framework, uma metodologia desenvolvida após 17 anos de pesquisas sobre gamificação e design comportamental.
O objetivo principal do Octalysis Framework é servir como base para a organização de um processo gamificado capaz de cumprir a função de engajar e motivar as pessoas que farão parte dele. Por ser extremamente completo e versátil, ele pode ser utilizado no ensino, no marketing, na gestão de pessoas e em praticamente qualquer outra situação em que haja a intenção ou a necessidade de gamificar algo.
Nos próximos parágrafos, vamos destrinchar cada lado do Octalysis e mostrar como ele pode ser um aliado poderoso na criação de experiências gamificadas instigantes e positivas.
Índice
Começando do começo: o que é gamificação?
Nas palavras do próprio Yu-kai Chou, gamificação é aquilo que ele define como Human-focused design, ou seja, um design que foca no fator humano em detrimento de uma abordagem puramente voltada para o lado da funcionalidade e da eficiência.
Chou diz que a maior parte dos sistemas possui uma abordagem centrada no Function-focused design, ou seja, são desenhados unicamente com o intuito de fazer com que uma tarefa seja feita de forma rápida. O Human-focused design, por outro lado, busca engajar as pessoas levando em conta seus sentimentos e aquilo que as motiva.
Gamificação e o comportamento humano
Poucas indústrias dominam tão bem a ideia do Human-focused design quanto a dos jogos. Encontrar maneiras de engajar os jogadores com elementos motivadores é a principal meta dos designers de games. Derrotar chefões, salvar princesas em apuros, acumular itens e passar de fase não são, por incrível que pareça, os objetivos principais de um jogo. O propósito maior desse tipo de entretenimento é simplesmente agradar quem o consome e impulsioná-lo a consumir cada vez mais.
Jogos são divertidos porque apelam para elementos emocionais que motivam as pessoas a realizarem atividades, seja por se sentirem empoderadas e inspiradas, seja por estarem sendo “manipuladas” e obcecadas por um objetivo. A esses elementos, Yu-kai Chou dá o nome de Core Drives.
Ao perceber tudo isso, o autor começou a mergulhar cada vez mais nesse universo para tentar entender as diferenças entre cada tipo de motivação. O resultado desse mergulho foi o Octalysis Framework, metodologia que hoje é referência mundial quando se fala em gamificação.
Apresentando o Octalysis Framework
O Octalysis Framework foi desenhado pelo próprio Yu-kai Chou como um octógono em que cada lado representa um dos 8 Core Drives da gamificação, as forças motrizes por trás da motivação humana.
1) Epic Meaning & Calling (Significado Épico)
O primeiro Core Drive do Octalysis é chamado de Epic Meaning & Calling. Como o próprio nome sugere, esse é o Core Drive responsável pelo sentimento de que o jogador está realizando algo grande e épico, maior até do que ele mesmo.
O Epic Meaning & Calling pode ser observado ou implementado em qualquer momento da jornada; Porém, ele costuma ser mais observado nas etapas iniciais, quando a pessoa está começando a descobrir o jogo e é acometida pela famosa “sorte de principiante”, que frequentemente a faz se ver como possuidora de alguma espécie de dom que ajuda seu desempenho a ser acima da média.
2) Development & Accomplishment (Desenvolvimento e Realização)
O Core Drive número dois é o de Development & Accomplishment. Ele é o principal responsável pela nossa vontade de progredir, desenvolver habilidades e superar desafios. Também é o Core Drive mais fácil de ser aplicado à gamificação, sendo observado, por exemplo, em sistemas de pontuação e recompensas.
3) Empowerment of Creativity & Feedback (Empoderamento da Criatividade e Feeback)
O Core Drive número três diz respeito ao engajamento do jogador em um processo de descobertas e experimentações de coisas novas e diferentes. Jogos também são uma forma de expressão da criatividade, e os usuários gostam e se sentem ainda mais motivados ao ver os resultados dessa criatividade.
4) Ownership & Posession (Propriedade e Posse)
O quarto Core Drive é o da posse. Ao sentir que é dono de algo dentro do jogo, o usuário automaticamente se sentirá motivado a cuidar daquela coisa e se empenhar para torná-la ainda melhor e mais valiosa.
Sabe aqueles jogos em que um dos principais objetivos é coletar moedas ou acumular itens? Esses títulos são excelentes exemplos da utilização desse Core Drive no design de games.
5) Social Influence & Relatedness (Influência social e identificação)
Os elementos sociais da gamificação estão todos reunidos no Core Drive número cinco. Sentimentos positivos, como aceitação, mentoria, companheirismo e reciprocidade, e negativos, como competição e inveja, estão diretamente conectados a ele.
O elemento motivador deste Core Drive reside no fato de que ele impulsiona o trabalho em grupo, a identificação e uma competição que, nas doses certas, ajuda os usuários a se superarem. Em tempos de presença massiva das mídias sociais, esse Core Drive se tornou um dos mais estudados.
6) Scarcity & Impatience (Escassez e Impaciência)
Quando não podemos ter algo, passamos a querê-lo ainda mais. É isso que diz o Core Drive número seis do Octalysis Framework. Sabe quando um produto ou serviço novo é lançado paulatinamente no mercado e essa escassez faz com que a procura por ele dispare? Esse é um exemplo prático desse Core Drive em ação. Esse sentimento de imediatismo é o que faz com que não consigamos esquecer alguma coisa enquanto não pudermos pôr as mãos nela, seja um produto ou item de jogo, por exemplo.
7) Unpredictability & Curiosity (Imprevisibilidade e curiosidade)
E já que falamos em desejo, o sétimo Core Drive também diz respeito a esse sentimento. Estar envolvido em uma situação e querer saber o que irá acontecer em seguida é uma vontade natural de toda pessoa, e isso também se aplica a um jogo ou qualquer outro sistema gamificado.
Quantas vezes você assistiu um seriado, por exemplo, e a curiosidade de saber o que aconteceria na história o motivou a continuar vendo os episódios? Quando situações como essa acontecem, quer dizer que estamos sob influência direta desse Core Drive.
8) Loss & Avoidance (Perda e Prevenção)
Por fim, o último Core Drive de Octalysis diz respeito ao nosso impulso de fugir se situações que podem nos fazer perder alguma coisa ou nos colocar em uma posição negativa.
O medo é um dos sentimentos mais primitivos do ser humano e guia, mesmo que de forma inconsciente, uma grande parte das ações que tomamos. Quando jogamos algo, sentimos medo em diversos momentos, inclusive o de perder todo o progresso que conquistamos. É o Core Drive que nos impede de desistir, por exemplo.
Os outros níveis do Octalysis
Tudo isso que acabamos de descrever é apenas o chamado nível 1 do Octalysis Framework. As duas décadas de trabalho de Yu-kai Chou criou um framework em que quanto mais as pessoas avançam, mais avançados são os níveis que elas conseguem alcançar. Coincidência ou não, essa é exatamente a forma como funciona um jogo.
O nível 2 do Octalysis Framework
O segundo nível do framework traz um novo elemento da gamificação à tona: a jornada do jogador, que Yu-kai Chou divide nas quatro etapas abaixo.
1) Descoberta (por que as pessoas querem começar a jogar?)
2) Onboarding (como ensinar aos usuários as regras e ferramentas do jogo?)
3) Scaffolding (agir de forma cíclica em torno de um objetivo)
4) Endgame (como reter jogadores veteranos?)
O nível 3 do Octalysis Framework
No terceiro nível do framework, Yu-kai Chou revela mais uma faceta que compõe a gamificação. Estamos falando da divisão dos jogadores em quatro tipos diferentes: os Achievers (Realizadores), Explorers (Exploradores), Socializers (Socializadores) e Killers (Matadores).
Essa nova camada oferece a possibilidade de observarmos como diferentes tipos de pessoas se comportam através dos diferentes estágios da gamificação, ajudando a personalizar cada experiência.
O caminho mais longo é também o mais seguro para uma gamificação de qualidade
Aplicar a gamificação em um processo é uma tarefa muito mais complexa do que nossas palavras podem fazer parecer.
O Octalysis Framework é uma excelente base e ponto de partida, mas gamificar envolve muito mais do simplesmente despejar Core Drives e esperar que eles sozinhos façam seu trabalho de motivar os participantes da dinâmica. Uma gamificação realmente eficiente requer muita análise, estudo, testes e ajustes.
Ter uma equipe que realmente deseja realizar o seu trabalho e ser produtiva é um dos grandes desafios das empresas nos dias de hoje. E a gamificação proposta por Yu-kai Chou pode ser a chave para tornar mais tênue a linha que separa aquilo que as pessoas querem fazer daquilo que elas precisam fazer. Se um dia isso for alcançado, podemos garantir que a qualidade de vida e sociedade como um todo serão muito gratas aos jogos.
Fonte: The Octalysis Framework for Gamification & Behavioral Design
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