Jogar videogame pode te ajudar a conseguir o seu próximo emprego. Descubra o motivo
Durante o curso da história humana, o conceito de trabalho, carreira e profissão sofreu inúmeras transformações. Não é preciso ir muito longe na linha tempo para encontrar ofícios que um dia foram opções viáveis de carreira e hoje estão basicamente extintos: telefonista, datilógrafo, radioator, lanterninha de cinema. A lista é enorme e, por mais que muitos não percebam, continua crescendo.
No exterior, há até mesmo quem diga que a maioria das crianças e jovens que hoje estão na escola trabalharão em atividades que ainda não existem, como Engenheiro de Prompts para IA e Designer de Cidades Inteligentes.
Ao nos depararmos com esse tipo de prognóstico, é comum que uma pergunta surja em nossas mentes: como se preparar para esse futuro tão distante e ao mesmo tempo tão próximo?
A resposta é só uma: dando aos jovens de hoje acesso a conhecimentos técnicos e acadêmicos robustos que os deem a capacidade de se adaptar ao que quer que apareça em seus caminhos. Porém, nada disso pode ser forçado. Os jovens devem ser movidos pela paixão ao buscar seus objetivos. E sabe o que pode ser uma ponte para isso? Sim, os videogames.
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Videogame é uma fonte de diversão e também de soft skills
A popularidade dos videogames é longeva e não dá sinais de enfraquecimento. Assim como o mercado de trabalho, eles também evoluíram e continuam a evoluir a cada novo lançamento ou inovação tecnológica.
Atualmente, estima-se que existam por volta de 2,5 bilhões de gamers em todo o mundo. E ao contrário do que possa afirmar o senso comum, esse não é um grupo hegemônico. Há jogadores em todas as classes sociais, de todas as idades, homens e mulheres.
Entretanto, mesmo com todos esses números, ainda existe muita gente que insiste em dizer que jogos são uma mera diversão ou, na pior das hipóteses, uma perda de tempo. E eles não poderiam estar mais errados.
A ideia exposta no parágrafo acima é tão equivocada que até mesmo uma das maiores empresas de Recursos Humanos do mundo, a ManpowerGroup, discorda dela. Em 2023, a companhia lançou um relatório chamado Game To Work—How Gamers Are Developing The Soft Skills Employers Need (Game to Work – Como os Gamers Estão Desenvolvendo as Soft Skills que os Empregadores Precisam, em tradução livre), que foca justamente em como os gamers chegam mais preparados ao mercado de trabalho.
Nas palavras da própria Manpower, “os gamers se sobressaem quando o assunto são skills como pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional e resolução de problemas complexos”. Além disso, a companhia diz que os jogos podem ensinar até mesmo sobre como dar feedbacks eficientes. Todas essas soft skills são, segundo os empregadores, “difíceis de encontrar e ainda mais difíceis de treinar”.
O Vice-presidente de Inovação Global e Analytics da empresa completa: “jogar promove a skill do aprendizado contínuo – e essa habilidade se torna cada vez mais crítica à medida em que as pessoas se adaptam a um panorama de trabalho que não pára de mudar”.
O entusiasmo da ManpowerGroup com o mundo dos games foi tanta que a empresa criou o Gaming Skills Translator, uma ferramenta on-line que analisa a trajetória gamer de um profissional e as traduz em habilidades valiosas para o ambiente de trabalho.
É jogando que também se aprende
O report da MenpowerGroup que mencionamos no tópico acima foi feito, em parte, a partir da análise de mais de 11.000 jogos de 13 gêneros diferentes.
Essa enorme variedade de objetos de estudo fez com que a companhia identificasse facilmente quais tipos de soft skills se desenvolvem a partir do contato com cada tipo de jogo.
Por exemplo: quem costuma jogar títulos de Estratégia, Quebra-Cabeça e Quiz, como StarCraft, Pac-Man e League of Legends, costuma se destacar na hora de resolver problemas, encontrar soluções criativas para as coisas, planejar, tomar decisões, pensar de forma crítica e analisar o seu redor. Isso os torna candidatos ideais para áreas como controle de qualidade, construção civil e operações.
Já os jogadores de Ação, Aventura e Role-Playing, como World of Warcraft, Assassin’s Creed e Pokémon, desenvolvem muitas habilidades sociais, como colaboração e comunicação, além de serem ótimos para resolver problemas e tomar decisões. Na vida profissional, eles se destacam em cargos que envolvem administração, análise, finanças e atendimento ao consumidor.
Games de Mundo Aberto na linha de Minecraft e Legend of Zelda são um campo livre para desenvolver a criatividade e as percepções visual e espacial de quem os joga, skills que podem ser muito úteis para carreiras como engenharia, design gráfico e chef de cozinha.
Os jogos de Equipe, Esportes e Corrida, como FIFA, Call of Duty e Need for Speed, treinam seus jogadores para dar e receber bons feedbacks, planejar táticas, colaborar, se comunicar com clareza e lidar com adversidades. Tudo isso pode ajudá-los, por exemplo, em uma carreira na área da saúde.
Por fim, temos os jogos de Música, como Rock Band e Just Dance, que ensinam algo muito valorizado e raro: o desejo de crescer rapidamente e desenvolver skills de forma perseverante e com muita prática. Esse tipo de jogador pode se destacar, e muito, em áreas como vendas e manufatura digital.
Tudo isso acontece por um simples motivo: jogar ajuda nosso cérebro a criar modelos cognitivos melhores, tornando mais fácil para nós prever e reagir a novas situações. Além disso, jogos on-line são como redes sociais. Nas palavras de Tim Sweeney, CEO da Epic Games, empresa por trás de Fortnite, “as pessoas jogam com amigos e com estranhos e utilizam o jogo como base para se comunicar”.
Gamificando o seu currículo
Uma das partes mais interessantes e importantes do estudo promovido pela ManpowerGroup é, sem sombra de dúvidas, o incentivo para que os gamers incluam seu lado jogador em seus currículos.
Isso consiste em listar os jogos que jogam e quais são as habilidades que eles obtêm por meio desses games. Da mesma forma, os recrutadores são incentivados a perguntarem sobre o assunto nas entrevistas.
Essa realidade já existe em países como a Noruega, onde mais da metade da população jovem costuma jogar algum jogo. Lá, muitas empresas têm recrutado jovens colaboradores com base nas skills adquiridas por meio de videogames.
Uma dessas empresas é a companhia de e-commerce Komplett, que tem contratado gamers para o seu departamento de customer service. Segundo o responsável pelo setor, “os gamers desenvolvem conhecimentos e habilidades que se transferem facilmente para a indústria de e-commerce, como habilidades de TI e skills cognitivas como foco, cooperação e capacidade de desempenhar diversas tarefas”.
Outro exemplo destacado no estudo é o da Lyse Dialog, uma empresa de serviços de utilidade pública. Neste caso, a companhia percebeu que em torno de 10% dos currículos que recebia listavam, além da formação e da experiência, informações referentes à trajetória de jogador do candidato. Aqui, o principal benefício foi o fato de que a companhia conseguiu construir uma imagem positiva junto aos jovens profissionais.
O mercado de trabalho do futuro será marcado pela necessidade de profissionais capazes de se adaptar e trabalhar lado a lado com as novas tecnologias que aos poucos passam a fazer parte das nossas vidas, como a Inteligência Artificial e os robôs.
Assim como o universo profissional, o mundo dos games continuará evoluindo de forma constante. E será cada vez mais comum encontrar profissionais que se capacitam por meio dos jogos. No momento, o maior desafio é mudar a mentalidade geral e fazer com que as pessoas enxerguem os videogames como mais que simples entretenimento.
Por isso, quando você vir um jovem vidrado nos games, não pense que ele está desperdiçando seu precioso tempo. Na verdade, ele pode estar garantindo o seu futuro profissional.
Adaptado de: Why More Employers Want To Hire People Based On Their Video Game Skills
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